Há nove dias, o coração de um porco escreve o futuro dos transplantes, com cada batida no peito de David Bennett. Cerca de 37 anos atrás, uma menina recém nascida, com uma condição cardíaca que levaria à morte imediata, recebeu o coração de um babuíno. O ataque de rejeição matou a bebê em duas horas. Mas agora, tudo mudou. Com avanços na genética e a possibilidade de editar os genes, o porco transgênico foi desenvolvido.
Durante a cirurgia de David Bannett, quatro genes foram desativados e seis genes humanos foram inseridos, para enganar o sistema imunológico e ele não rejeitar o transplante. Segundo Paulo Rego Fernandes, várias são as razões que justificam a escolha do porco.
“Ele é um animal fácil de criar, é relativamente barato, por motivos éticos, a sociedade aceita, e ele cresce rápido”, afirma.
Os primeiros testes de transplante foram feitos em animais, mas para um transplante com paciente vivo, era necessário alguém que não tivesse nenhuma alternativa. Foi aí que entrou David Bennett. Desde novembro de 2021, ele estava ligado a uma máquina para o sangue circular, e reagiu com bom humor quando ouviu a proposta de receber o coração de um porco.
“Vou fazer ‘oinc oinc’?”, perguntou David ao médico.
A cirurgia durou oito horas e meia e, assim que foi conectado no corpo de David, o coração novo começou a bater. Passadas as 48 horas de maior perigo de rejeição grave, sem problemas, a máquina foi desligada. Foi quando o mundo ficou sabendo da cirurgia histórica.
Mas na sexta-feira (14), uma revelação do passado de David Bennett fez muita gente questionar se ele “merecia uma segunda chance”. Há 34 anos, David deu sete facadas em um homem que ficou paraplégico e morreu. Há poucos anos, ele foi condenado pelo crime e passou seis anos na prisão. Caso o transplante não apresente nenhum problema, essa pode ser a redenção pessoal de David Bennett, e abrir portas para um novo universo na medicina.